Olá pessoas.

Após um bom tempo sem postar algo relevante no fórum, devido compromissos
de estudo, finalmente tenho material e tempo para um novo tópico in habitat.

Antes de ir a um local totalmente novo (que deve ser apresentado em breve)
atrás de novas espécies convenci o bom amigo Paulo a ir até a Serra do Cipó.
Felizmente ele aceitou, apesar de conhecer aquilo como a palm,a da mão.
Eu já havia ido até lá duas vezes, quando procurei por plantas carnívoras foi por
muito pouco tempo. Felizmente encontrei algumas espécies (veja aqui).

A Serra do Cipó é um dos lugares mais interessantes, tanto pela quantidade
de espécies de plantas carnívoras, algumas endêmicas, como pela facilidade
de acesso até elas. Claro que o grau de “facilidade” é ampliado quando o
ambiente já foi previamente mapeado por outras pessoas como o Paulo e o Fernando.
Outro facilitador é o acesso aos habitats. A estrada que passa pela serra é asfaltada
e as caminhadas são curtas em terreno praticamente plano. Para tornar as caminhadas
ainda mais tranquilas foram poucos os [doloridos] mosquitos e, estranhamente, não peguei
carrapatos.


O primeiro dia em campo foi a realização de um antigo pedido ao Paulo, láááá de 2011:
Ver a fantástica Drosera chysolepis, in habitat.
O primeiro local não era algo que chamasse a atenção para quem passa na estrada ...
... olha o Paulo percorrendo o campo.


O que você acha que poderia estar crescendo por alí? As fantásticas D. chrysolepis!!!




Plantas incríveis, mesmo tendo em cultivo é algo muito especial ver elas em campo.
As plantas parecem antigas, enormes, entre as folhas de gramíneas secas nas encostas
de pequenos montes. Também estavam à beira de um pequeno regato, onde pupulavam
outras espécies.

Genlisea violacea


Utricularia tricolor


Drosera communis


Genlisea aurea


Além de orquídeas e paepalanthus bonitinhos.



Também haviam pequenas rãzinhas que mimetizam o fundo lodoso do regato


Vale o registro de que também havia Drosera tomentosa var. tomentosa, Utricularia laciniata e
Utricularia amethystina, com flores apesar do tempo seco. Outro registro importante é que
em um pequeno barranco, em uma área de cerca de 30 metros quadrados ali do lado estava o local tipo
(e único no Cipó, tem outro local conhecido onde ela ocorre em Itacambira, segundo o Fernando)
da Genlisea oligophylla. Infelizmente não a encontramos, o capim estava alto, a estação seca ...
... quem sabe na próxima vez. Pretendo voltar quando for mais úmido e fotografar mais flores.

Ainda com tempo antes de escurecer, partimos para outro local. Que tal?


A ideia era ver populações bem conhecidas de uma espécie de nome novo.
Uma drosera pequena, pecíolo verdes, limbo vermelho, nome esquisito, adivinhou?

Drosera spirocalix



Também vimos uma planta grande, se comparada às D. spirocalix, talvez um híbrido entre essa espécie e D. montana


A população era esparsa, entre gramíneas e ao longo da trilha, em um local muito seco.
Eu ainda custo a acreditar que elas sobrevivem assim, essas droseras xerófitas.


O que mais deu para fazer no final do dia foi fotografar as coisas que estavam vegetando por lá:
Sophronites brevipedunculata (com flor velha), orquídea que eu queria muito ver no campo.


Bromélias lançando sementes ao vento.


Paepalanthus bonitinhos.


E as fantásticas vellozias gigantes.

O último local do dia foi um brejão em outro ponto da serra.
O que mais chamava a atenção eram as droseras, claro:

Drosera camporupestris



Drosera communis


Drosera tentaculata


Drosera tomentosa var. tomentosa


Também tinha uma boa quantidade de Genlisea aurea var. minor
(as do primeiro local eram as grandonas)


Outras "coisas" do charco eram as burmannias roxas


Vellozias de cores pálidas.


Além das rãzinhas. A dessa imagem mimetizava o fundo escuro com um risco marrom,
que me parece um graveto ou folha seca. Dá para usar nas aulas sobre o processo de seleção
darwiniano.


Entre as pedras do riacho próximo havia Utricularia tricolor


A Utricularia neottioides crescia sob água corrente, fixada nas rochas.


Alí perto havia uma população de Drosera chrysolepis, além de Utricularia nana
e provavelmente outras espécies que não vimos, pois já estava escurecendo.

Segundo dia, amanhecemos na simpática pousada que ficava entre árvores,
bem perto do Rio Cipó. Um ruído agudo me chamou a atenção, era um grupo
de saguis que pararam para serem fotografados catando piolhos na borda da
mata de galeria.


A caminho da segunda espécie que era inédita in habitat para mim, uma
melastomataceae muito simpática, com folhas brancas, casca grossa.


Ela abrigava grandes besouros que lhe comiam as pétalas.


Outra planta interessante é o tal Paepalanthus bromelioides. Elas plantas
crescia em solo seco e mais avermelhado. Até aprendi a distinguir de outras espécies
pelas hastes florais, graças ao prof. Gonella, que é praticamente parte da fauna do Cipó.


Olha as flores


O que estávamos procurando mesmo? Ah, Droseras!!!!
Olha que lindas Drosera spirocalix no solo ressecado


Também havia Drosera tentaculata, algumas sobre rochas sob o sol.
Logo pensei que tinha que mudar a hidratação das minhas lá na casa das plantas onde
ficam encharcadas. Eu sabia que elas ficavam em locais secos, mas não havia visto
algo tão seco assim. Uma população, entre outras plantas, era verde-amarelada (acho ).


A outra população de Drosera tentaculata que crescia sobre arenito era bem vermelha.


A população esverdeada estava crescendo junto com [suspiro] Drosera quartzicola.
As D. chrysolepis são plantas incríveis, mas eu tenho em cultivo e já havia visto imagens
diversas delas ...
... definitivamente, para mim, a D. quartzicola é a planta que valeu a viagem ao Cipó.
Lembra uma D. spiralis curta ou uma D. schwackei comprida, que planta mais linda.
A mucilagem nessa espécie é muito mais viscosa, lembra a da D. spiralis só que mais
concentrada ainda.




Alí perto haviam pequenas populações de Drosera chrysolepis




E em meio a essas droseras singulares haviam alguns híbridos, entre Drosera quartzicola
e Drosera chrysolepis, segundo o Paulo.


Em homenagem ao Fernando, que não foi, uns matinhos não-carnívoros: uma "margarida"
(com uma mini-esperança de carona)


e uma barbacenia pequena de cor vermelha.

E lá fomos nós a outra população de Drosera quartzicola. Embora estivesse em
menor quantidade e sem outras espécies de plantas carnívoras por perto, essas plantas
cresciam em local semelhante: o solo era composto por areia com pouca matéria orgânica,
entre cristais de quartzo. O corredor de vento, quase no pico de pequenos morros provavel-
mente favoreceria a coleta de umidade da neblina, talvez também passariam mais insetos por alí.
Enfim, alguém tem que estudar isso melhor, sentar lá, observar, enfim ...





Uma aranha com teia em funil


A paisagem, morro com afloramentos rochosos cheio de vellozias.

Terceiro dia em campo, a missão era encontrar uma nova população de Drosera quartzicola,
avistada por outra bióloga conhecida do Paulo. No caminho fizemos uma parada em um charco seco,
com algumas PCs e plantas simpátricas:

Drosera camporupestris


Muitas Drosera tomentosa var. tomentosa, beeeeem vermelhas.


Drosera hirtella var. hirtella, viva na seca (encontramos outras já mortas,
nos morros próximos, mais acima). Essa achei sozinho, que orgulho.


Também haviam flores de um tipo de íris


E os paepalanthus mais fotogênicos da serra.

Cansaram? Imaginem que isso tudo foi andado, fotos editadas, postadas, tópico escrito, revisto ...
... lembrei porque faz tempo que postei o último tópico, enfim, mas vale a pena. Segue o relato:

As populações de Drosera quartzicola são plantas pequenas que estão entre
minúsculas vellozias, paepalanthus, gramíneas, xyris e outras plantas rasteiras.
Para complicar elas não fazem muito contraste com o entorno pela estação estar
seca e muitas das folhas também. O mais interessante é que há locais com a mesma
inclinação, fluxo e direção de vento, insolação, solo e plantas indicadoras ...
... mas elas não estão lá!
Felizmente o Paulo vai a campo “dia sim, outro também” e enxerga muitos tons de vermelho:




Ah, e o membro da fauna local mais avistado (depois do Paulo): o cupim

Talvez houvessem mais populações de Drosera quartzicola, fomos atrás de locais
com as mesmas características. Devem haver algumas que desconhecemos pois foram
centenas de metros quadrados de prováveis habitats vistoriados, sem sucesso. Elas
finalmente foram encontradas, mas não em um local inclinado pedregoso, dessa vez
estavam em um terreno plano, muito arenoso, atrás de um afloramento rochoso.
Coincidiu a presença de cascalho de quartzo, solo bem drenado e seco e o corredor
de vento. As plantas dessa população estavam mais viçosas, com mais folhas ativas.





Missão mais que cumprida, ainda deu tempo para olhar o que havia em volta dessas plantas:

Barbacenias amarelas com resina super viscosa



Bromélia sobre tronco de vellozia morta


Imagem de cactos para o Adilson


Orquídeas na rocha


Mais um matinho não-carnívoro, para o Fernando


Mantis, minúsculo, caminhando perigosamente na sombra das droseras


Paepalanthus fotogênicos


... e o Paulo todo contente, procurando pelas quartzicolas no final do arco-íris



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Espécies encontradas ao longo de três dias:

Drosera camporupestris
Drosera communis
Drosera chysolepis
Drosera hirtella var. hirtella
Drosera quartzicola
Drosera quartzicola x chrysolepis
Drosera montana x spirocalix (?)
Drosera spirocalix
Drosera tomentosa var. tomentosa
Genlisea aurea
Genlisea aurea var. minor
Genlisea violacea
Utricularia amethystina
Utricularia laciniata
Utricularia nana
Utricularia neottioides
Utricularia tricolor

Eu já estava enferrujado no uso das ferramentas de postagem em fóruns. É trabalhoso mas o resultado é bem mais interessante que o das outras redes sociais. Espero que tenham gostado

Um abraço.

Uau!!! Isto sim é um belo relato fotográfico, digno de um troféu. Ali só há espécie lindas, em especial as D. spirocalyx (esse sim é um nome que traduz a beleza de uma Drosera) com suas cores vívidas.

Eu lhe agradeço por compartilhar conosco estas imagens extraordinárias, Carlos.

Abs,

Rodrigo F. Costa

Ia comentar no facebook mas depois de um relato sensacional como esse fui obrigado a fazer o login no fórum só para postar meus elogios ao tópico! Kkkkk
Simplesmente incrível Carlos, o lugar é fantástico e a diversidade de plantas é demais, com certeza é um dos locais que pretendo visitar assim que puder! As fotos tb estão muito boas! Parabéns!

Abraços,
Bruno.