Com o intuito de dar uma overdose de habitats no Fernando e ver se ele larga de morar lá na gringolândia e volta pra cá de uma vez por todas pra curtir as carnivoras conosco, Aqui vai um post sobre um habitat maravilhoso em Brasilia, mais especificamente localizado na fazenda experimental da UnB (agora com novo reitor). Brasilia é um lugar estranho, porque de um lado você tem 4 milhões de pessoas espalhados pra todos os cantos e aumentando, e do nada no meio de bairros residenciais você tem areas gigantescas preservadas de cerrado uma do lado da outra(Jardim botanico, reserva do IBGE, Fazenda da Unb, reserva da marinha, parque nacional de Brasilia) e mananciais interminaveis de agua, tudo isso acima de 1000 metros de altitude num clima ameno e perfeito. Então todas essas combinações dao pra o DF um gosto todo especial pra andar nos habitats aqui da capital.
Então fomos o Vitor B e eu para checarmos um habitat que ele conhecia nesta fazenda, mas que queria explorar mais, colher uns herbarios e tentar achar mais espécies.
No caminho ainda antes de chegar no local propriamente dito, vimos uma area de campo alagado, que não resistimos em parar para conferir se havia algo lá.


Nela encontramos logo de cara duas espécies de utricularia. Subulata e esta minuscula.



Mais adiante, como não poderia faltar em um habitat aquatico desses, Genlisea (repens? Filiformis?) Crescendo como plantas aquaticas.





Escondia no capim, nas beiradas mais secas deste alagado, achamos Estas D. hirtella (var hirtella?) O capim as cobria de um jeito que quase não pegavam luz, e estavam bem verdes por causa disso.



Depois disso pegamos o carro e andamos mais alguns km adiante. Dai chegamos na região onde o Vitor havia estado anteriormente. E sintam so o drama da paisagem. Interessante é que pra onde olhavamos se descortinavam km em todas as direções, sem nada de civilização a perder de vista. Me senti no meio de um lugar distante e isolado e não no meio de uma metrópole de milhões de pessoas.

PRa chegarmos ao habitat tivemos que atravessar com agua no peito, este ribeirão que atravessava a vereda.

Dai depois, em um lugar que havia uma antiga estrada abandonada, que aos poucos foi sendo retomada pela vegetação, começamos a encontrar as primeiras Drosera Cayennensis as centenas! Era meu primeiro contato com elas. Elas são como hirtellas bem delicadas e frageis, lembrando um tanto D. montana neste aspecto.








Havia varias delas em flor. Acho interessante como são pouco floríferas, produzindo cada uma, dois ou três flores somente. A haste é relativamente curta também.




Seguindo adiante na mesma ex-estrada-atual-habitat, misturadas com as cayennensis começamos a achar as primeiras D. ssp corumbá. Nunca tinha visto elas ao vivo, são plantas lindas, grandes, com hastes florais lindamente curvadas, altas e peludas!
Aliás Fernando, quando é que vai ser decidido o status dela? Espécie? subespécie? Ela é legal demais pra deixar assim ao deus dará hahaha.






Elas estavam com flores abertas, junto com as cayennensis.



Digna de nota era essa Drosera aqui, que de longe foi a Drosera mais bonita que eu ja vi na natureza e provavelmente na minha vida. Toda redonda e simetrica. Praticamente um shuriken! Ela tinha o tamanho de uma corumbá, mas tinha as cores mais claras da cayennensis, e tinha um vigor vegetativo bem superior ao da maiora das plantas deste habitat. Então não sei. O Vitor acha que é uma cayennensis, eu acho que talvez não possa ser um hibrido? Afinal ela estava no meio das duas espécies que praticamente florescem juntas, e é uma planta mais vigorosa do que o normal para o local. Que você acha fernando?



Neste habitat e no resto da região inteira você conseguia achar entre o capim, MUITA U. amethystina.
Eu achava que as que eu vi no começo do ano em Aiuruoca eram as mais bonitas que eu conhecia. Mas estava enganado. As daqui dão de 10 a zero! São ainda maiores e tem desenhos muito complexos e bonitos nos labelos! Cada uma tem um padrão diferente!








Junto a elas, ainda um pouco de utricularia Subulata (ou triloba, vitor?)

Saindo deste habitat, seguimos uma estrada utilizavel que se encaminhava para uma parte mais alta do terreno, onde o vitor havia encontrado mais algumas carnivoras em um riacho que atravessava a estrada.
Chegando ao local achamos mais algumas amethystinas, subulata, triloba, e também

mais sp. corumbá

E girinos!!!
Dai enquanto estavamos lá pensamos, e se descermos pelo terreno acompanhando o riacho? Deve ter coisa interessante talvez.
O riacho fazia um cânyonzinho pelo terreno, descendo de forma irregular. Era de aguas bem limpas e cristalinas

não demorou muito (na verdade não demorou nada) pra começarmos a ver pontinhos brancos saindo do meio dágua.
E demorou menos ainda pra vermos que tinhamos achado U. neottioides!!! Fiquei surpreso porque aqui elas cresciam sem precisar de pedras pra se fixarem. Em ibitipoca eu vi delas só encima de pedras dentro dágua. Mas pelo visto isto não é uma exigencia.
Praticamente entupiam o riozinho aos milhões.


Quando o riozinho formava poços mais fundos e de agua mais parada, dava pra ver que eram plantas bem grandes, com as partes submersas de tamanho bem avantajado.


E tinham toneladas de capsulas de semente

Por causa da luminosidade na agua e da delicadeza das plantas, elas se mostraram mais fotogenicas do que o normal.



Mas claro que não ia ter só isto.
Nas margens do corrego, quando o capim ficava mais ralo e a terra ficava mais exposta, apareceram D. communis, D. hirtella var. Hirtella.









Mas quando pensavamos que ja tinhamos tido surpresas suficientes pra um dia, eis que apareceram estas formas albinas de U. amethystina! Eu conhecia so as que o Vitor chama de "Small white". Mas estas aqui nos chamamos de "Big white" porque elas tinham o tamanho normal de U. amethystina, menos os lobulos do labelo que eram pronunciadamente mais curtos (ainda que o calcar continuasse de tamanho normal tb). Notamos que, enquanto as amethystinas tipicas ocorriam na região inteira, estas albas se concentravam somente nas beiradas do riacho. Procuramos em volta e não as achamos mais do que 1 metro além da beirada do rio (em epocas de chuva forte, elas ficam praticamente submersas, pois vimos o capim por onde cresciam, deitado pelas enxurradas). Por vezes diviam o habitat com alguma rara amethystina tipica, mas no geral onde as brancas ocorriam, tendiam a ficar mais sozinhas. Havia bem uns 20 individuos por lá, o que não configurava uma aberração isolada.





Detalhes da parte vegetativa.



E foi isso que achamos por lá. É bom saber que existe uma area tão rica assim e bem preservada, cheia de belezas e surpresas tão perto de nós (e para inveja do Fernando que esta longe hahaha).
Este post, o meu post de habitats solo e os posts do Vitor sobre a Chapada dos veadeiros e cristalina, da uma boa idéia do que existe de Pcs aqui no centro oeste. Modéstia a parte estamos num paraíso de belezas abundantes de fazer inveja pra qualquer um! E fico feliz de poder estar por aqui pra ir registrando e compartilhando com o pessoal essas incursões fantásticas.
Um abraço pra todos
Adilson - DF
