Olá a todos,


Entre os dias 15 e 20 de maio passado eu estive na Serra do Cipó, um dos lugares mais ricos em PCs do Brasil, a apenas ~100 km de BH.
Fui junto do meu orientador e outros alunos dele (a maioria, especialistas em Eriocaulaceae, outro grupo muito comum na região).
Saímos cedo de SP no dia 15, nosso objetivo era chegar antes do pôr-do-sol na Serra, objetivo logo frustrado pelo fato de que o carro mal passava dos 80 km/h... descobrimos, depois, que alguém tinha mexido num botão de rotação do carro, e este estava em baixa rotação... felizmente, conseguimos resolver o problema e nossa volta não demorou tanto quanto as 12 horas e meia despendidas na ida.
Outro problema que me acometeu foi que fiquei sabendo da viagem apenas dois dias antes, então acabei deixando minha câmera em São Carlos. Felizmente (ou nem tanto) consegui uma câmera não muito boa emprestada... ainda bem que todos os outros tinham câmeras também – peguei todas emprestadas... 

Nos dois primeiros dias, nós exploramos algumas áreas em que eu estive da outra vez que fui pra lá, em novembro de 2007, e, no terceiro dia, nós exploramos uma região pouco conhecida, um grande vale arenoso, de difícil acesso senão com uma 4X4 ou a pé...
Como são muitas as fotos, vou dividir esse relato em, pelo menos, duas partes.

Bom, chega de conversa e vamos às fotos!

Perto do começo da subida da Serra fica o Morro da Pedreira. Esse morro é uma formação muito interessante, cheia de cavernas formadas pela água. Também é um local onde se pratica escalada. Foto com a câmera ruim:


A vegetação ainda apresentava-se bastante exuberante, apesar de a estação seca já estar começando:


Uma pequena Vellozia sp.


Lavoisiera sp. (Melastomataceae)



O primeiro ponto em que nós fomos é, nada mais nada menos, do que onde foi descoberta a belíssima Drosera sp. “Shibata”. Essa espécie ocorre em solos arenosos com pouca matéria orgânica, entre gramíneas esparsas, mas geralmente em locais perturbados (estradas de terra), onde as gramíneas estão ainda mais esparsas. O solo apresenta-se visivelmente seco, exceto, talvez, no verão. Mesmo assim, elas não ocorrem em locais onde brotam nascentes sazonais, como ocorre com outras spp.

Neste ponto, elas ocorrem simpátricas com Drosera montana, da qual elas diferem pela grande pilosidade na face abaxial das folhas e adaxial do pecíolo, formato da lâmina, espatulada a oblanceolada, com o ápice quase truncado (em D. montana, a lâmina tem um formato espatulado mais linear e ápice obtuso), coloração diferencial entre pecíolo (verde) e lâmina (vinácea), enquanto D. montana tem coloração uniforme. Além dessas, também há características dos órgãos reprodutivos, mas não era época de floração (que é na época de estiagem) – vide minha outra viagem no link: Serra do Cipó - Parte 2 - Viagem 2007.




Mais fotos de D. sp. “Shibata”:






Num outro ponto mais distante, reencontrei aquele grupo enorme que estava com flores em novembro. Nenhuma flor desta vez, mas as plantas estavam visivelmente maiores e mais bonitas:
Novembro de 2007


Maio de 2008








Algumas formavam um caule longo, com várias folhas mortas:




De longe:

Seguindo na trilha, surgiram algumas nascentes e, nelas outras espécies:
Drosera tomentosa var. glabrata




E Utricularia amethystina, na sua forma mais comum, com flores grandes e lilases:






Crescendo sobre as grandes Vellozias, várias Sophronitis brevipedunculata estavam em flor:

E, entre dois afloramentos rochosos, havia uma pequena faixa de solo úmido, onde ocorriam:
Drosera tomentosa var. glabrata




Drosera sp. “Shibata”


E uma pequena população de Drosera chrysolepis








Uma delas estava com frutos ainda em maturação:


Voltando para o carro, encontrei, crescendo na beira de outra trilha, Utricularia laciniata:




Junto de U. amethystina


Com a corola dobrada:


E também, alguns Paepalanthus bromelioides, que alguns acreditam ser uma carnívora (ou proto-carnívora).

Saímos desse ponto e fomos explorar a região perto da estátua do Juquinha, um famoso ponto turístico da Serra (no pictures, sorry).
A região tem vários afloramentos, dos quais brotam algumas nascentes.




Não muito longe dali encontrei uma pequena região pantanosa, com um solo preto, muito rico em matéria orgânica. Infelizmente estava sozinho nessa hora e desprovido de uma câmera decente... por isso essas são as únicas fotos boas que tenho:
A região:




Crescendo ali estavam várias Drosera camporupestris




Além de D. tentaculata e D. tomentosa var. glabrata, das quais não tenho fotos...

Mas, num outro ponto perto dali, em uma nascente que descia de um afloramento rochoso, encontrei várias Drosera hirtella var. hirtella com hastes florais:




Drosera tomentosa var. glabrata (E) e D. hirtella (D)


D. tomentosa var. glabrata também florida




E uma enorme Drosera chrysolepis, crescendo apoiada sobre gramíneas:






E, pra fechar, eu num dos afloramentos, me camuflando com o horizonte...



E assim termino a primeira parte desse meu relato.
Em breve parte 2 (e, quem sabe, 3 também)...


Enjoy,

Parabens Paulo!

Muito legais as fotos, plantas e paisagens! Pena q vc não tinha câmera própria na viagem, é uma droga isso! Já me aconteceram coisas semelhantes... Uma vez em eu perdi (ou roubaram) minha câmera. Não sei o q aconteceu, só sei q eu tava com ela na minha mochila antes de embarcar no avião em SP e quando cheguei na pousada no Cipó, ela não estava mais lá. Já me aconteceu tbm de levar a câmera e esquecer o cartão de memória. Tbm já ocorreu de a câmera travar em várias viagens (devido a poeira, frio, úmidade, etc.). Mas o pior foi levar a câmera (das antigas, não-digital), tirar fotos durante o dia inteiro e de repente perceber que eu já tava na foto número 50 -- o que era impossível! É q eu havia esquecido de colocar filme dentro da câmera, hahaha!

Anyways, adorei aquela população em meia-lua de D.sp.Shibata, que lindas! Adorei tbm aquela U.campbelliana epífita sobre Velloz... ih, é apenas uma orquidea qq, que pena! Sabe que eu já havia procurado D.camporupestris, sem sucesso, na região do Juquinha? Havia uma coleta da UNICAMP nesta região, mas eu nunca consegui confirmar. Que bom q vc achou!

A última foto foi sem querer ou planejada? Ficou legal, hahaha!

Abs, Fernando Rivadavia

P.S. Aguardo ansiosamente fotos da tal grande região arenosa do Cipó, que eu sempre quis visitar mas nunca acabei indo (principalmente pq não sabia chegar lá!). Nas minhas anotações eu chamava este possivel Shangri-La das PCs de "Vale do Silício", hahaha!

Uau!
Adorei o tópico Paulo!
Apesar do problema com a cam as fotos ficaram satisfatorias!
Bem legal tbm aquela ultima foto, parecia que seu tronco estava flutando!!!
Toda a vez que vejo fotos da serra do cipó me dá uma tristeza por morar tão perto e nunca ter tido a oportunidade de visitar.

Abraços

Sem palavras! Belas fotos e lugar lindo!

Paulo e outros,

Só queria informar, antes de vc escrever a 2a parte do teu relato do Cipó, que agora vcs já podem user oficialmente o nome D.schwackei (e não mais D.montana var.schwackei)!! Foi publicado meu artigo propondo esta mudança no CPN (jornal da ICPS). Vejam o link abaixo:

http://www.carnivorousplants.org/cpn/Sp ... 36_43.html

Abs, Fernando Rivadavia

Parabéns Fernando