Ivo
Destaque
Registrado em: 10.03.2010(Qua)12:53 Mensagens: 65 Localização: Nova Petrópolis - RS
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Oi pessoal,
Sei que esse tópico é meio antigo, mas tenho umas observações interessantes a fazer. Sou professor de idiomas e estou familiarizado com pronúncias dos nomes científicos. Concordo com o comentário do amigo químico do Rique: a pronúncia pode ter variações. Mesmo assim, a tabela fornecida pelo ALAMelo é confiável, e pode ser seguida. Mas vão aqui algumas ajudinhas:
1) Quando da convenção científica (não lembro a data - datas! - e nem o lugar - lugares!) em que se decidiu usar os nomes a partir do grego e do latim, foi tomada a resolução de tudo ser através do latim, isto é, mesmo os nomes gregos seriam latinizados, o que significa que, embora de origem grega, a pronúncia do latim deveria prevalecer. É algo parecido com o que se faz em português com algumas palavras, por exemplo, "blecaute", "abajur", "quermesse", "cáfila", "paelha", todas originárias de outras línguas, mas aportuguesadas, ou seja, passadas para a pronúncia portuguesa, mas não traduzidas;
2) Por incrível que possa parecer a alguns, a terceira língua da taxonomia científica é o brasileiríssmo tupi. Com as descobertas na América do Sul de uma vasta quantidade de plantas e animais (destacam-se nisso Humboldt e Von Martius), surgiu a necessidade de dar nomes a gêneros e até famílias inteiras exclusivas deste continente. E o tupi foi a língua escolhida para muitos casos. Exemplos disso: Andira anthelmia, o conhecido angelim (o gênero "Andira" significa "morcego" em tupi, em que se diz "andirá"; os frutos desta árvore são muito comidos por eles); Dasyprocta agouti, uma das espécies de cutia ("agutí" é o nome tupi da cutia); Coendidae é a família do ouriço cacheiro, designado cientificamente Coendu villosus (o nome tupi dele é "kuendú"). E assim vai, são milhares. Neste caso, deveria sera aplicada a regra da pronúncia latinizada, mas nem sempre é o que acontece: os puristas que conhecem a pronúncia tupi, preferem ela. *Uma nota: tupi não é sinônimo de Tupí-Guaraní; Tupí-Guaraní é o nome de uma família linguística nativa da América do Sul, da qual fazem parte as línguas Tupí e Guaraní (este último vivíssimo com vários dialetos);
3) Na nomenclatura científica costuma-se fazer homenagem a alguém (descobridor, pesquisador etc). Neste caso, a pronúncia deveria seguir o idioma em que o nome da pessoa está escrito. Por exemplo, Cattleya é o nome de um gênero de orquídeas dado em homenagem ao orquidófilo inglês William Cattley e, por isso, o correto seria pronunciá-lo 'a la inglesa'; várias espécies tem o nome específico "steindachnerii", dado em homenagem ao cientista austríaco Franz Steindachner, e neste caso, o correto é pronunciar em alemão: 'shtaindárrnerii';
4) O nome às vezes é de um lugar: a orquídea Cleistes itatiaiae faz clara referência ao Itatiaia; neste caso, a pronúncia deveria ser "itatiaie" e não "itaciaie" (segundo a regra latina).
Claro, nada do que expus é infalível. Mas quem se aventura pela botânica (ou zoologia) tem que estar pronto para pesquisar. Quem estuda plantas vai estudar, por tabela, linguística, geografia, geologia, ecologia... e até história. Mas isso deve ser um prazer, não um sofrimento. Imagine pensar em fazer viagens in habitat e não querer saber geografia! Realmente não dá.
Abraços!
Ivo
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