Oi pessoal,
Esse post é basicamente uma tradução do post do Andreas no CPUK:
http://www.cpukforum.com/forum/index.ph ... opic=44386A maioria das fotos é dele, exceto pelas três últimas, que são minhas! ;)
Cinco novas espécies de Genlisea acabam de ser publicadas no último número da revista Phytotaxa.
Todas pertencem ao subgênero Tayloria, isto é, as espécies brasileiras com frutos que se abrem em duas valvas e que tem o esporão divergente ao labelo inferior (e paralelo ao pedicelo). Antes dessa revisão, o subgênero continha três espécies: G. violacea, G. lobata e G. uncinata.
No entanto, nos últimos anos (ou até mesmo décadas ;) ) o Fernando Rivadavia descobriu várias novas espécies, que são agora descritas todas juntas numa completa revisão do subgênero:
“A revision of Genlisea subgenus Tayloria” por Andreas Fleischmann, Fernando Rivadavia, Günther Heubl e eu, em Phytotaxa 33, páginas 1-40 (publicado em 28 de Novembro de 2011).
http://www.mapress.com/phytotaxa/conten ... t00033.htmQuem quiser o artigo completo (40 páginas, com chave de identificação, ilustrações de todas as oito espécies, mapas de distribuição, fotos das flores e imagens SEM das sementes de todas as spp.) pode me enviar uma MP com o endereço de email, que enviarei com prazer.
Dentre as novas espécies, provavelmente a mais comum em cultivo é G. flexuosa, uma espécie perene proximamente aparentada da anual G. violacea. Seu cultivo é extremamente fácil, sendo previamente conhecida como G. violacea ‘Giant’ or G. ‘giant rosette’. É bem provável que a maioria das “G. violacea” em cultivo (especialmente se ela cresce como uma praga, é perene e forma carpetes de folhas propagando-se por mudas que nascem ao longo das armadilhas) na verdade seja G. flexuosa.
O híbrido artificial “G. lobata x violacea” vendido por Kamil Pasek (bestcarnivorousplants), na realidade, é um híbrido entre G. lobata e G. flexuosa (e não G. violacea).
O nome dessa sp. se refere aos longos e flexuosos escapos florais, que tem pedicelos reflexos no fruto, que se enrolam nas ervas e gramas ao redor para suporte.

G. flexuosa no local tipo (foto Andreas Fleischmann).

(foto Andreas Fleischmann)
Essa espécie cresce em áreas alagadas, geralmente entre gramas altas, comumente acompanhada de outras PCs como Drosera graminifolia, D. grantsaui, D. x fontinalis, D. tomentosa, D. communis, Genlisea repens, G. aurea, e várias espécies de Utricularia. Um paraíso carnívoro!

(foto Andreas Fleischmann)
As flores com um labelo inferior relativamente grande e um labelo superior comparativamente pequeno, e o esporão (cálcar) longo, são familiares a vários cultivadores, que cultivam essa planta como “G. violacea ‘giant’”. A espécie mais fácil de cultivar desse subgênero, na minha opinião...
Outra espécie nova que já está em cultivo (pelo menos na Europa): Genlisea metallica, também conhecida por G. sp. Itacambira Beauty (Bela de Itacambira). Essa é outra espécie perene, com belas flores roxo-escuras e que apresentam um brilho metálico sob sol direto (daí seu nome, que não é resultado da completa falta de entusiasmo dos autores pela banda de rock, mas sim das reflexões luminosas das flores ;) ).
G. metallica é provavelmente a espécie mais glandular entre as Genliseas Sul-Americanas, sendo que suas inflorescências continuam grudentas mesmo depois de secas! Essa espécie tem uma roseta compacta de folhas densamente arranjadas que, geralmente, morrem após a floração e a planta passa por uma breve dormência (pelo menos na natureza) sobrevivendo com nutrientes estocados em um caule subterrâneo semelhante a um pequeno nabo. É uma espécie muito rara na natureza, sendo conhecidas apenas duas populaces isoladas.

G. metallica no local tipo (foto Andreas Fleischmann).

G. metallica tem flores com um brilho metálico e um labelo superior grande, com dois lobos bastante divergentes (foto Andreas Fleischmann).
A grande G. oligophylla também é uma espécie perene e era conhecida pelo nome Genlisea sp. ‘Cipo’. É proximamente aparentada de G. uncinata, e também apresenta escapos florais bastante altos e grossos, além de poucas folhas durante a floração (o nome da espécie significa “com poucas folhas”).

(foto Andreas Fleischmann)
Essa espécie prefere crescer em áreas mais bem drenadas, em solo arenoso que fica levemente úmido (e não encharcado) durante a época seca. É geralmente encontrada entre gramas altas e as flores aparecem no alto de hastes longas e suculentas.

Em contraste com G. uncinata, a corola de G. oligophylla tem veias escuras e o cálcar nunca é curvado no ápice (foto Andreas Fleischmann).
As duas espécies restantes são anuais, assim como G. violacea e G. lobata (na natureza, mas perenes facultativas em cultivo, assim como todas as espécies do subgênero Tayloria).
Uma das espécies é da Bahia e foi descoberta pelo Fernando Rivadavia próximo ä Cachoeira da Fumaça, por isso era conhecida como G. sp. “Fumaça”. Essa espécie recebeu o nome de Genlisea exhibitionista, resultado da incrível habilidade do Fernando de escolher nomes estranhos em geral, e se refere à morfologia particular das flores dessa espécie: ao contrário das demais espécies de Genlisea, o tubo da corolla dessa espécie não é completamente fechado (como nas típicas flores denominadas “snap-dragon”), e apresenta uma abertura que expõe os estames – daí o nome! ;)
Essa espécie, provavelmente, está adaptada a um tipo diferente de polinizador, uma vez que ela não só apresenta aquela abertura na corolla, mas também tem um cálcar bem mais curto e grosso. Sendo assim, o polinizador deve ser um inseto com uma “língua curta” (enquanto que as outras espécies de Tayloria devem ser polinizadas por insetos com uma proboscide longa, como moscas da família Bombylidae, borboletas e mariposas).

O cálcar curto, a corolla aberta e o escapo peludo de G. exhibitionista (foto Andreas Fleischmann).

A flor vista de frente, mostrando a abertura da corolla (foto Paulo Gonella).
Por fim, a última espécie também é muito rara e foi observada apenas em duas pequenas localidades. Numa delas, essa espécie cresce sob o spray de uma enorme cachoeira, vivendo permanentemente sob um nevoeiro. Por essa razão ela foi chamada de Genlisea nebulicola – “vivendo nas nuvens”. Essa espécie era chamada pelos nomes informais G. sp. “Canastra” e “G. mini-violacea”, que se encaixa bem já que é o menor membro do subgênero. Todavia, ela lembra muito mais G. lobata. Ela apresenta pequenas e delicadas flores em escapos bem finos que são quase glabros – em contraste a todas as outras espécies do subgênero. As rosetas de folhas são comparativamente grandes em comparação com a inflorescência e flores.

G. nebulicola no local tipo – o spray da cachoeira é tão denso que as flores e frutos dessa espécie ficam englobados dentro de gotas d’água (foto Paulo Gonella).

G. nebulicola – plantas em cultivo (foto Paulo Gonella).
Abraço,